Entretanto, morre-se
De casar culpa e paixão
De promessas de nunca mais
Juras de não repetição
De “não volta a acontecer”
Morre-se de não dizer
E
De escadas escorregadias
De escoriações acidentais
De vizinhos de ouvidos moucos
E mais atitudes boçais
Morre-se de morrer aos poucos

Morre-se de um frugal almoço
Ou de uma festa, um alvoroço
Morre-se inebriado de aromas
Ou de um ataque de ciúmes
E de uma lua-de-mel
Para esconder azedumes
(ou até hematomas)
Num eterno retorno ao fundo do poço
Às vezes, quem sobe, sem dar por nada
Morre de uma queda na escada

Morre-se de silêncio, de vergonha
E de paixões escondidas
Morre-se de um estigma de amplitude medonha
Morre-se de um macho de peito inchado
De um corno embriagado
De não meter a colher…
No meu país, é este o fado:
Morre-se só de ser mulher.

 

Eugénia Brito

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